“Quem inventou o amor, não fui eu ... não fui eu, nem ninguém ...
Mas estavas desprevenido e por acaso eu também.”
Era a Fête de la musique, 21 de junho na Côte d’Azur, há alguns anos. Eu cantava para comemorar essa linda noite no restaurante do companheiro da minha prima em Antibes. Quanta gente legal, também algumas pessoas estranhas ... claro, depois de uma boa dose etílica até o mais careta dos franceses se solta.
Fui apresentada a ele por um amigo italiano, amante da música e principalmente da salsa. Aquelas feições ... trabalha com pesquisa, computadores ... arrisquei no inglês. Riso geral, era um índio do Pará, gente boa, divertido, inteligente e também um amante da música, amante da nossa música brasileira. Conversamos até o dia amanhecer. Pena conhecer uma pessoa tão especial a poucos dias de voltar para o Brasil.
Nos encontramos em um jantar de despedida feito por minha tia para mim. Ele tocava e eu cantava. Ele tocava violão olhando para os meus olhos e eu cantava especialmente para os seus sentidos. Enquanto preparavam a mesa no jardim, encontramos um lugar mais tranquilo para conversar e assim nos demos um dos beijos mais deliciosos de nossas vidas. O corpo dele arrepiado envolvido em melodias que eu sussurrava ao seu ouvido: “Um cantinho, um violão, esse amor, uma canção ...”
Tudo deveria parar aí, pois ele me disse que tinha alguém, e apesar de estar solteira também estava voltando para o Brasil no dia seguinte. Vamos esquecer tudo isso. Foi impossível. Mesmo distantes, o nosso pensamento estava impregnado daquelas melodias, aquele beijo e aquele abraço. Fechava os olhos e conseguia sentir as suas mãos deslizando pelas minhas costas. E tenho certeza a minha voz continuava sussurrando ao seu ouvido. Nos comunicávamos quase diariamente por telefone, e-mail, MSN ... até que surgiu uma oportunidade. Feriado longo na Europa. Havia um espaço na minha agenda. Comprei uma passagem e voltei para França.
Ficamos juntos por alguns dias ...
Juntos ... tocando e cantando ...
Tocando e amando ... cantando e amando ...
Comendo, bebendo, dormindo ...
E mais música ... minha voz no seu ouvido ... tudo acontecia ...
Quando terminava uma das muitas harmonias de nossos corpos, ele pegava o violão e colocava na frente da sua nudez ... tocava e pedia “cante mais”.
Songbooks de Tom, Gil, Djavan, Chico ...
“Eu faço samba e amor até mais tarde ...”
Naqueles dias vivemos intensamente o nosso amor.
Claro que voltei para o Brasil e com o tempo, acabou.
Nunca mais nos encontramos.
Ele pode estar no Sul da França, Portugal, Angola, Inglaterra, Brasil, não sei.
Ficou a saudade? Não.
Ficaram as lembranças e a certeza de que é bom demais amar.
P.S. Verdade ou fantasia?