sábado, 2 de julho de 2011
CORPO, MENTE E ALMA
O movimento pelo bem é fundamental, mas a libertação não é conquistada apenas com conhecimento e ações superficiais. A transformação vem da alma pois “quem sabe pode muito, mas quem ama pode mais”*.
Mesmo com todo determinismo para o sucesso nos livros, meios de comunicação e até nos modelos educacionais, vemos uma quantidade cada vez maior de pessoas insatisfeitas com suas vidas. Os desejos estimulam planos que causam expectativas que geram frustrações porque sempre queremos mais e mais e mais ... Não temos um modelo realista e razoável de vida como referência pois apenas divulgam os extremos: a ausência de sucesso – o fracasso ou o bem sucedido – o vitorioso. E então esquecemos que a vida que vivemos é totalmente preenchida por anônimos fundamentais muitas vezes ignorados e desrespeitados por nós.
Todos os dias recebo em minhas caixas de mensagem, nas redes sociais e de relacionamento, orações, correntes, previsões, receitas para o sucesso que sugerem “não quebre essa corrente pois algo de muito bom vai acontecer e mudar a sua vida”. Alguns textos são realmente interessantes e positivos, mas todas as vezes que retransmito retiro essa cláusula determinista: faça e tudo dará certo, não faça e perderá uma grande oportunidade de ser feliz, ser rico, de encontrar a pessoa amada, de ser uma pessoa melhor. No fundo sabemos que nada vai mudar apenas com o reenvio de um e-mail se não fizermos algo de real para melhorar as nossas vidas. ATITUDE para o bem e para o bom.
Primeiro, a transformação não pode ser apenas teórica. A simples leitura de um texto pode ajudar a perceber o poder que temos e onde podemos melhorar, mas só ler não consolida a mudança. Fica no âmbito do conhecimento mas falta sabedoria. O acesso às informações de cuidar do corpo, desenvolver hábitos saudáveis, ter boa alimentação e pensar positivo e amorosamente deve ser um grande estímulo para nos proporcionar melhor qualidade de vida, porém se temos dificuldades básicas fica complicado implementar esse projeto de bem estar. Todos nós temos nossas lutas pessoais. No entanto essas lutas devem começar aqui dentro, bem do coração.
Recentemente percebi que mesmo lendo, me informando, assistindo a palestras, trocando idéias com amigos, eu me sentia cada dia mais desmotivada, insegura e frustrada. Diante desse quadro procurei ajuda e cheguei à conclusão que todo o conhecimento adquirido não tinha sido verdadeiramente absorvido. Alimentamos os conflitos internos, criamos bloqueios, nos afundamos na culpa e nutrimos o medo porque nos apegamos aos momentos mais difíceis de nossas vidas. Ao nos ligarmos aos fracassos acreditamos que nada mais de belo foi realizado. Nem sequer sentimos a beleza e o amor ao nosso redor. E olha que o bom e o belo estão nas coisas mais simples.
A mente humana é muito poderosa. De início usávamos como parâmetro o QI. Entretanto o raciocínio rápido e lógico dos gênios não lhes garantia sucesso na vida. No final do século passado, descobrimos a inteligência emocional pois pessoas inteligentes eram vitimas das suas emoções mal trabalhadas. Então fizemos as pazes com os nossos sentimentos e encaramos de frente as nossas emoções para melhor nos entendermos e nos relacionarmos. Agora no novo milênio é chegada a hora de cultivar a saúde da alma. O movimento para o bem é fundamental e a libertação será conquistada com o amor pleno. O amor transformador que não espera nada em troca e que vê no outro apesar das diferenças o seu igual, pois para quem ama verdadeiramente não interessa gênero, classe social, cor da pele, opção sexual, nível intelectual ou origem.
Para saúde da alma, corpo e mente, pratique sempre: amar a Deus, a si mesmo e o próximo.
*Titulo do livro psicografado pelo psiquiatra espírita kardecista Wanderley Oliveira da Editora Dufaux
Texto elaborado para revista Boa Dica / Japão
Vivendo e aprendendo
A Terra do Sol Nascente – um bom exemplo a ser seguido de trabalho coletivo, crescimento pela educação e tecnologia limpa.
Acabei de dar uma entrevista para um jornal local divulgando o meu novo projeto de Música Mestiça Brasileira (MMB). Esse projeto tem como foco principal explorar as claves rítmicas afro-brasileiras em canções com melodias e métricas interessantes. Mas o papo foi tão bom que ele me sugeriu uma retrospectiva da minha carreira e me pediu para lembrar alguns momentos marcantes. Depois de falar sobre o primeiro palco de bar, o primeiro trio e a primeira banda, e também sobre a participação na banda Cheiro de Amor, cheguei a uma das viagens mais importantes que fiz na minha vida: JAPÃO. Eu, banda e equipe, 15 pessoas vindas do Brasil, nos juntamos a produtores japoneses da Min-On e Latina para fazermos 11 shows em 11 cidades diferentes em 24 dias.
Nada de anormal. Os shows tiveram teatros cheios e contamos com uma estrutura maravilhosa. Mas quanto mais eu viajava pelo Japão, mais me surpreendia. Procurava resquícios da guerra e os encontrei apenas nos museus e monumentos. Em todo lugar que passei encontrei um país totalmente reconstruído, vivo e produtivo. De Sendai a Okinawa, passando por Kitakyushu, Nagasaki, Kioto, Osaka, Kobe, Tóquio... experimentamos da culinária tradicional aos sushis de lojas de conveniência. Nos hospedamos em hotéis espaçosos em prédios altíssimos como em pousadas modestas. Vimos o tranquilo japonês do campo, o apressado japonês da cidade e o bronzeado japonês da praia. Encontramos em todos os lugares pessoas solícitas, dispostas a nos ajudar mesmo com as dificuldades de comunicação.
Senti a gentileza desse povo e lembrei do meu povo brasileiro. Sabemos que em todos os países há algum tipo de corrupção e problemas sociais, porém políticos que desviam verbas de merenda escolar, superfaturam medicamentos destinados ao Sistema Único de Saúde que atende a população carente, inventam beneficiários do bolsa família e da previdência para colocar essas pensões nos próprios bolsos, homens públicos que usam o poder para criar uma verdadeira rede de licitações vencidas através de suborno e todo um sistema de apoio financeiro durante campanhas eleitorais para garantir orçamentos estratosféricos em obras públicas. Esses e outros delitos vêm destruindo ou no mínimo adiando o acesso a uma vida digna para grande parte da população brasileira.
Brasil, o quinto maior país do mundo em território, possui aproximadamente 190 milhões de habitantes. Mesmo com as maiores concentrações nas regiões Sudeste, Nordeste e capitais, temos grandes bacias fluviais, a maior floresta equatorial e uma topografia generosa de planaltos e planícies bons para produção de alimentos. Se compararmos com a população nipônica de 127,4 milhões de pessoas que vivem em um arquipélago com rigorosas estações de chuva e neve, e restrições de recursos naturais devemos aprender como esse país chegou a segunda maior potência mundial e um dos lideres mundiais em desenvolvimento de novas tecnologias amigas do ambiente.
Viajar para o Japão e ver aquele pais funcionando, administrando seus problemas e buscando soluções, mas acima de tudo respeitando os direitos do seu povo, me instigou e me indignou a não querer menos para o nosso pais. Quanto mais viajo, mais fortes ficam as minhas raízes. Quero o nosso Brasil como merecemos. Crianças e adolescentes com acesso a educação de qualidade, atendimento decente para todos nos postos de saúde e hospitais, homens e mulheres com emprego, moradia, alimentação e transporte, jovens com perspectivas reais de sucesso na vida. Continuarei viajando pelo mundo e voltarei para casa, agradecida pela vista do mar, pela brisa que sopra em meu rosto, pelo carinho e aconchego do meu lar, e nesse momento pensarei positivamente no dia em que essa pátria mãe gentil será para todos os brasileiros.
Texto elaborado para revista Boa Dica / Japão
Dia Brasileiro: saudade e realidade
Brasil: o pais do futuro pode ser o pais do presente para todos nós?
O Dia Brasileiro ou Brazilian Day tem em todo mundo características bem semelhantes, mas a principal é a presença massiva de brasileiros muito saudosos do pais de origem. É um momento de festa, de celebração que esconde atrás de toda aquela produção uma realidade muito cruel para os imigrantes brasileiros na maioria dos paises que os recebem. O brasileiro, salvo algumas raras exceções é muito mal visto por seus anfitriões e tratado com certo receio.
O movimento de homens e mulheres pelo mundo sempre foi muito natural, mesmo depois de mudarmos nossa condição de nômades para sedentários formando assim as primeiras cidades. Muitos da nossa espécie se aventuravam em terras desconhecidas e ainda se aventuram para o desconhecido em busca de melhores oportunidades. No passado o que estimulava inicialmente a migração de povos inteiros era a caça, o extrativismo e as mudanças climáticas. Posteriormente buscavam locais mais apropriados para o cultivo e a criação de animais como as margens dos rio, terras férteis, clima mais ameno e sempre a conquista de riquezas naturais ou de outros povos. Hoje nos movimentamos com grande facilidade fortalecendo a globalização, a comunicação sem fronteiras, vencendo os limites de tempo e espaço.
Assim foi minha viagem para o primeiro Brazilian Day Portugal. Uma rápida saída do meu habitat que aguçou os meus sentidos. Um fim de semana em Lisboa – Portugal me deixou feliz por proporcionar um momento de carinho e alegria para alguns brasileiros através da música, mas me deixou triste diante de uma percepção critica do pais dos nossos colonizadores e do nosso Brasil colonizado. Alem da condição desigual que essa relação histórica proporciona, encontrei uma atmosfera de crise nos meios de comunicação. O governo de Portugal pedia ajuda a União Européia para sair da crise. Pensei: será o caos? Adoro Portugal, sua arquitetura, comida, musica, pessoas, sotaque ... estava visitando o primo pobre da Europa porém na estrutura local tudo continuava em funcionamento: hospitais, escolas, sinais de trânsito, transporte público, aeroportos, pontos turísticos, museus, comercio ...
Não me enquadro no perfil turista consumista pois minha consciência ambiental avalia algumas vezes se preciso ou não comprar uma determinada coisa, porém como estávamos em um lindo hotel cinco estrelas cuja garrafinha de suco de 300ml custava 5 euros, fui ao mercado em um shopping próximo. Quanto mais caminhava, mas ficava assustada. As frutas, os legumes, alimentos industrializados ou não, chocolates, produtos naturais, sem falar nos vinhos, azeites eram mais baratos que no Brasil? Comprei uma garrafa grande de água mineral por 0,40 euros. Eu moro no pais que possui a maior reserva de água doce do mundo e pago por uma garrafinha de meio litro o equivalente a 1,5L em Portugal? Continuei a minha pesquisa e fui a uma loja de esporte. Não preciso de nada, mas para minha filha poderia ter algo, então encontrei uma boa camisa de algodão lisa tamanho 5/6 anos por apenas 2 euros, o equivalente a 5 reais. Depois fui almoçar com meus músicos em um restaurante cujo buffet incluindo saladas diversas, prato quente, suco, sobremesa e café custava 5,90 euros. Então surtei. Nem nos restaurantes naturais que costumo freqüentar há mais de 20 anos consigo tamanha economia. Nosso pais também é um grande produtor de alimentos.
Aproveitei a refeição para trocar idéias e relaxar com meus músicos Marcio Dhiniz e Rudnei Monteiro, e uma nova amiga Maria dos Prazeres. Então conversamos amenidades e diante da evidente saudade da família fiz a pergunta sobre a possibilidade de Maria retornar ao Brasil e a resposta foi imediata: não. Motivos óbvios: mercado de trabalho, vida estruturada com facilidades, conforto, qualidade. Também havia queixas, sempre as teremos, no entanto a queixa de Prazeres estava impressa na nota fiscal, uma taxa de 13%. Então eu ri e todos olharam pra mim. Bom saber o quanto se paga de imposto em cada compra, em cada serviço, em cada negócio realizado. Nossos alimentos, combustível, remédios, serviços são extremamente caros e muitas vezes nem temos noção de quanto se paga de imposto. Isso sem falar que preciso pagar escola, assistência medica e viver insegura, dirigindo por ruas esburacadas e ainda contribuo com o absurdo Imposto de Renda de 27%.
Recentemente escrevi uma nota no Facebook agradecendo a um competente e admirado jornalista quando ele no seu programa de rádio compara os nossos impostos (41% no total) com os de outros paises da América Latina e faz a triste indagação de onde vai parar o nosso precioso e suado dinheirinho. O pais está em pleno desenvolvimento com produção e consumo em alta. O dinheiro está chegando aos cofres públicos, mas os serviços básicos e as melhorias não retornam para o povo brasileiro. Rodo, viajo, reflito e sempre retorno para o meu canto no bairro do Rio Vermelho com alguma esperança de que um dia Prazeres e muitos outros brasileiros terão melhores opções do que deixar esse pais. Brasil do futuro pode e deve ser o Brasil, pais do presente.
Texto elaborado para revista Boa Dica / Japão
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