sábado, 10 de outubro de 2009

Carla Visi em mais uma aventura ... Lavage de la Madeleine

Viajar para cantar na altura dos meus 20 anos de carreira musical não tem nada de novo. O diferente estava no motivo que me levou a cruzar o Atlântico. Uma lavagem nas ruas de Paris. Como algo tão brasileiro, ou melhor, tão baiano poderia acontecer numa das cidades mais antigas do mundo, centro da burocracia e das regras rígidas? Claro que também é a França dos imigrantes, a Paris das diversas etnias.

Tudo começou na praça de La Bourse até chegar a igreja de Madeleine. Uma multidão seguia a festa e mais pessoas vinham de todo canto. Havia música e dança na frente do cortejo com percussionistas e dançarinos no chão tocando e dançando maracatu. Capoeiristas logo em seguida com fantásticas acrobacias. Um minitrio comigo, J Velloso, Del Feliz, Nova e outros músicos atravessava ruelas em clima carnavalesco. Todos, músicos e artistas convidados, brasileiros de alma daqui e de lá. E mais ao fundo ainda tínhamos outro grupo de percussionistas regidos por Giba.

A festa seguia animada numa verdadeira celebração pela Paz. Como é bonita a mistura. O nosso país é assim. E assim o cortejo acolhia a todos. Venha com a sua alegria somar com a minha. Franceses, brasileiros, africanos e outras etnias acompanhavam o cortejo até chegar a Madeleine. Então, em frente a Igreja vivemos um dos momentos mais lindos de nossas vidas. Com as baianas e seus vasos de água de cheiro e flores lavando a escadaria, o padre nos recebe e reza o Pai Nosso em francês, um dos organizadores faz a prece em português e um pai de santo faz a saudação a todos os orixás em yorubá. A religião naquele momento cumpria o seu papel. Nos conectava a Deus enquanto verdadeiramente praticávamos o amor ao próximo, o amor sejamos iguais ou diferentes mas simplesmente, amor.

Chegava o momento final e os grupos foram dispersando, desmontando, tirando as fantasias. O carro de som desligou os aparelhos. Parecia fim de carnaval, tão rápido e tão intenso. Deixou saudade. Vim, vi e me apaixonei. Paris é linda, mas a cidade luz nunca mais será a mesma porque os brasileiros passaram por ali com sua música, sua fé, sua força e sua alegria. Eu, volto pra casa ainda mais brasileira, afinal, quanto mais eu giro o mundo mais em casa me sinto. Vida longa a lavage de la Madeleine.

Obrigada J Veloso e Luzia, Roberto Chaves e Jean, Adilson, Paulo, Anny pelo convite e apoio. Muito obrigada a todos que através da colaboração tornaram a lavage de la Madeleine uma linda realidade.