sábado, 2 de julho de 2011

CORPO, MENTE E ALMA


O movimento pelo bem é fundamental, mas a libertação não é conquistada apenas com conhecimento e ações superficiais. A transformação vem da alma pois “quem sabe pode muito, mas quem ama pode mais”*.

Mesmo com todo determinismo para o sucesso nos livros, meios de comunicação e até nos modelos educacionais, vemos uma quantidade cada vez maior de pessoas insatisfeitas com suas vidas. Os desejos estimulam planos que causam expectativas que geram frustrações porque sempre queremos mais e mais e mais ... Não temos um modelo realista e razoável de vida como referência pois apenas divulgam os extremos: a ausência de sucesso – o fracasso ou o bem sucedido – o vitorioso. E então esquecemos que a vida que vivemos é totalmente preenchida por anônimos fundamentais muitas vezes ignorados e desrespeitados por nós.

Todos os dias recebo em minhas caixas de mensagem, nas redes sociais e de relacionamento, orações, correntes, previsões, receitas para o sucesso que sugerem “não quebre essa corrente pois algo de muito bom vai acontecer e mudar a sua vida”. Alguns textos são realmente interessantes e positivos, mas todas as vezes que retransmito retiro essa cláusula determinista: faça e tudo dará certo, não faça e perderá uma grande oportunidade de ser feliz, ser rico, de encontrar a pessoa amada, de ser uma pessoa melhor. No fundo sabemos que nada vai mudar apenas com o reenvio de um e-mail se não fizermos algo de real para melhorar as nossas vidas. ATITUDE para o bem e para o bom.

Primeiro, a transformação não pode ser apenas teórica. A simples leitura de um texto pode ajudar a perceber o poder que temos e onde podemos melhorar, mas só ler não consolida a mudança. Fica no âmbito do conhecimento mas falta sabedoria. O acesso às informações de cuidar do corpo, desenvolver hábitos saudáveis, ter boa alimentação e pensar positivo e amorosamente deve ser um grande estímulo para nos proporcionar melhor qualidade de vida, porém se temos dificuldades básicas fica complicado implementar esse projeto de bem estar. Todos nós temos nossas lutas pessoais. No entanto essas lutas devem começar aqui dentro, bem do coração.

Recentemente percebi que mesmo lendo, me informando, assistindo a palestras, trocando idéias com amigos, eu me sentia cada dia mais desmotivada, insegura e frustrada. Diante desse quadro procurei ajuda e cheguei à conclusão que todo o conhecimento adquirido não tinha sido verdadeiramente absorvido. Alimentamos os conflitos internos, criamos bloqueios, nos afundamos na culpa e nutrimos o medo porque nos apegamos aos momentos mais difíceis de nossas vidas. Ao nos ligarmos aos fracassos acreditamos que nada mais de belo foi realizado. Nem sequer sentimos a beleza e o amor ao nosso redor. E olha que o bom e o belo estão nas coisas mais simples.

A mente humana é muito poderosa. De início usávamos como parâmetro o QI. Entretanto o raciocínio rápido e lógico dos gênios não lhes garantia sucesso na vida. No final do século passado, descobrimos a inteligência emocional pois pessoas inteligentes eram vitimas das suas emoções mal trabalhadas. Então fizemos as pazes com os nossos sentimentos e encaramos de frente as nossas emoções para melhor nos entendermos e nos relacionarmos. Agora no novo milênio é chegada a hora de cultivar a saúde da alma. O movimento para o bem é fundamental e a libertação será conquistada com o amor pleno. O amor transformador que não espera nada em troca e que vê no outro apesar das diferenças o seu igual, pois para quem ama verdadeiramente não interessa gênero, classe social, cor da pele, opção sexual, nível intelectual ou origem.

Para saúde da alma, corpo e mente, pratique sempre: amar a Deus, a si mesmo e o próximo.

*Titulo do livro psicografado pelo psiquiatra espírita kardecista Wanderley Oliveira da Editora Dufaux

Texto elaborado para revista Boa Dica / Japão

Vivendo e aprendendo


A Terra do Sol Nascente – um bom exemplo a ser seguido de trabalho coletivo, crescimento pela educação e tecnologia limpa.

Acabei de dar uma entrevista para um jornal local divulgando o meu novo projeto de Música Mestiça Brasileira (MMB). Esse projeto tem como foco principal explorar as claves rítmicas afro-brasileiras em canções com melodias e métricas interessantes. Mas o papo foi tão bom que ele me sugeriu uma retrospectiva da minha carreira e me pediu para lembrar alguns momentos marcantes. Depois de falar sobre o primeiro palco de bar, o primeiro trio e a primeira banda, e também sobre a participação na banda Cheiro de Amor, cheguei a uma das viagens mais importantes que fiz na minha vida: JAPÃO. Eu, banda e equipe, 15 pessoas vindas do Brasil, nos juntamos a produtores japoneses da Min-On e Latina para fazermos 11 shows em 11 cidades diferentes em 24 dias.

Nada de anormal. Os shows tiveram teatros cheios e contamos com uma estrutura maravilhosa. Mas quanto mais eu viajava pelo Japão, mais me surpreendia. Procurava resquícios da guerra e os encontrei apenas nos museus e monumentos. Em todo lugar que passei encontrei um país totalmente reconstruído, vivo e produtivo. De Sendai a Okinawa, passando por Kitakyushu, Nagasaki, Kioto, Osaka, Kobe, Tóquio... experimentamos da culinária tradicional aos sushis de lojas de conveniência. Nos hospedamos em hotéis espaçosos em prédios altíssimos como em pousadas modestas. Vimos o tranquilo japonês do campo, o apressado japonês da cidade e o bronzeado japonês da praia. Encontramos em todos os lugares pessoas solícitas, dispostas a nos ajudar mesmo com as dificuldades de comunicação.

Senti a gentileza desse povo e lembrei do meu povo brasileiro. Sabemos que em todos os países há algum tipo de corrupção e problemas sociais, porém políticos que desviam verbas de merenda escolar, superfaturam medicamentos destinados ao Sistema Único de Saúde que atende a população carente, inventam beneficiários do bolsa família e da previdência para colocar essas pensões nos próprios bolsos, homens públicos que usam o poder para criar uma verdadeira rede de licitações vencidas através de suborno e todo um sistema de apoio financeiro durante campanhas eleitorais para garantir orçamentos estratosféricos em obras públicas. Esses e outros delitos vêm destruindo ou no mínimo adiando o acesso a uma vida digna para grande parte da população brasileira.

Brasil, o quinto maior país do mundo em território, possui aproximadamente 190 milhões de habitantes. Mesmo com as maiores concentrações nas regiões Sudeste, Nordeste e capitais, temos grandes bacias fluviais, a maior floresta equatorial e uma topografia generosa de planaltos e planícies bons para produção de alimentos. Se compararmos com a população nipônica de 127,4 milhões de pessoas que vivem em um arquipélago com rigorosas estações de chuva e neve, e restrições de recursos naturais devemos aprender como esse país chegou a segunda maior potência mundial e um dos lideres mundiais em desenvolvimento de novas tecnologias amigas do ambiente.

Viajar para o Japão e ver aquele pais funcionando, administrando seus problemas e buscando soluções, mas acima de tudo respeitando os direitos do seu povo, me instigou e me indignou a não querer menos para o nosso pais. Quanto mais viajo, mais fortes ficam as minhas raízes. Quero o nosso Brasil como merecemos. Crianças e adolescentes com acesso a educação de qualidade, atendimento decente para todos nos postos de saúde e hospitais, homens e mulheres com emprego, moradia, alimentação e transporte, jovens com perspectivas reais de sucesso na vida. Continuarei viajando pelo mundo e voltarei para casa, agradecida pela vista do mar, pela brisa que sopra em meu rosto, pelo carinho e aconchego do meu lar, e nesse momento pensarei positivamente no dia em que essa pátria mãe gentil será para todos os brasileiros.

Texto elaborado para revista Boa Dica / Japão

Dia Brasileiro: saudade e realidade



Brasil: o pais do futuro pode ser o pais do presente para todos nós?

O Dia Brasileiro ou Brazilian Day tem em todo mundo características bem semelhantes, mas a principal é a presença massiva de brasileiros muito saudosos do pais de origem. É um momento de festa, de celebração que esconde atrás de toda aquela produção uma realidade muito cruel para os imigrantes brasileiros na maioria dos paises que os recebem. O brasileiro, salvo algumas raras exceções é muito mal visto por seus anfitriões e tratado com certo receio.

O movimento de homens e mulheres pelo mundo sempre foi muito natural, mesmo depois de mudarmos nossa condição de nômades para sedentários formando assim as primeiras cidades. Muitos da nossa espécie se aventuravam em terras desconhecidas e ainda se aventuram para o desconhecido em busca de melhores oportunidades. No passado o que estimulava inicialmente a migração de povos inteiros era a caça, o extrativismo e as mudanças climáticas. Posteriormente buscavam locais mais apropriados para o cultivo e a criação de animais como as margens dos rio, terras férteis, clima mais ameno e sempre a conquista de riquezas naturais ou de outros povos. Hoje nos movimentamos com grande facilidade fortalecendo a globalização, a comunicação sem fronteiras, vencendo os limites de tempo e espaço.

Assim foi minha viagem para o primeiro Brazilian Day Portugal. Uma rápida saída do meu habitat que aguçou os meus sentidos. Um fim de semana em Lisboa – Portugal me deixou feliz por proporcionar um momento de carinho e alegria para alguns brasileiros através da música, mas me deixou triste diante de uma percepção critica do pais dos nossos colonizadores e do nosso Brasil colonizado. Alem da condição desigual que essa relação histórica proporciona, encontrei uma atmosfera de crise nos meios de comunicação. O governo de Portugal pedia ajuda a União Européia para sair da crise. Pensei: será o caos? Adoro Portugal, sua arquitetura, comida, musica, pessoas, sotaque ... estava visitando o primo pobre da Europa porém na estrutura local tudo continuava em funcionamento: hospitais, escolas, sinais de trânsito, transporte público, aeroportos, pontos turísticos, museus, comercio ...

Não me enquadro no perfil turista consumista pois minha consciência ambiental avalia algumas vezes se preciso ou não comprar uma determinada coisa, porém como estávamos em um lindo hotel cinco estrelas cuja garrafinha de suco de 300ml custava 5 euros, fui ao mercado em um shopping próximo. Quanto mais caminhava, mas ficava assustada. As frutas, os legumes, alimentos industrializados ou não, chocolates, produtos naturais, sem falar nos vinhos, azeites eram mais baratos que no Brasil? Comprei uma garrafa grande de água mineral por 0,40 euros. Eu moro no pais que possui a maior reserva de água doce do mundo e pago por uma garrafinha de meio litro o equivalente a 1,5L em Portugal? Continuei a minha pesquisa e fui a uma loja de esporte. Não preciso de nada, mas para minha filha poderia ter algo, então encontrei uma boa camisa de algodão lisa tamanho 5/6 anos por apenas 2 euros, o equivalente a 5 reais. Depois fui almoçar com meus músicos em um restaurante cujo buffet incluindo saladas diversas, prato quente, suco, sobremesa e café custava 5,90 euros. Então surtei. Nem nos restaurantes naturais que costumo freqüentar há mais de 20 anos consigo tamanha economia. Nosso pais também é um grande produtor de alimentos.

Aproveitei a refeição para trocar idéias e relaxar com meus músicos Marcio Dhiniz e Rudnei Monteiro, e uma nova amiga Maria dos Prazeres. Então conversamos amenidades e diante da evidente saudade da família fiz a pergunta sobre a possibilidade de Maria retornar ao Brasil e a resposta foi imediata: não. Motivos óbvios: mercado de trabalho, vida estruturada com facilidades, conforto, qualidade. Também havia queixas, sempre as teremos, no entanto a queixa de Prazeres estava impressa na nota fiscal, uma taxa de 13%. Então eu ri e todos olharam pra mim. Bom saber o quanto se paga de imposto em cada compra, em cada serviço, em cada negócio realizado. Nossos alimentos, combustível, remédios, serviços são extremamente caros e muitas vezes nem temos noção de quanto se paga de imposto. Isso sem falar que preciso pagar escola, assistência medica e viver insegura, dirigindo por ruas esburacadas e ainda contribuo com o absurdo Imposto de Renda de 27%.

Recentemente escrevi uma nota no Facebook agradecendo a um competente e admirado jornalista quando ele no seu programa de rádio compara os nossos impostos (41% no total) com os de outros paises da América Latina e faz a triste indagação de onde vai parar o nosso precioso e suado dinheirinho. O pais está em pleno desenvolvimento com produção e consumo em alta. O dinheiro está chegando aos cofres públicos, mas os serviços básicos e as melhorias não retornam para o povo brasileiro. Rodo, viajo, reflito e sempre retorno para o meu canto no bairro do Rio Vermelho com alguma esperança de que um dia Prazeres e muitos outros brasileiros terão melhores opções do que deixar esse pais. Brasil do futuro pode e deve ser o Brasil, pais do presente.

Texto elaborado para revista Boa Dica / Japão

domingo, 1 de maio de 2011

Domingo, mais um dia para amar


Que o domingo seja maravilhoso!

Mais um dia para praticarmos o bem, o amor ao próximo, a tolerância ao diferente, a preservação do planeta (nossa casa), a harmonia entre os povos, a vida plena de boa vontade ... o Sol volta a brilhar na capital da Bahia de todos os santos, de todos os orixás, de todos nós ricos ou pobres.

Mesmo distante, saiba que amo você e que todos os dias aprendo um pouquinho mais a ser melhor humano combatendo o egoísmo, a inveja, os maus pensamentos e sentimentos ruins.

Sobre o sucesso: existem talentos diversos no mundo e nem todos chegam ao conhecimento de todas as pessoas porque alguns talentos são necessários a um pequeno grupo de pessoas e nem por isso menos importantes. Use todo o seu amor, use todo o seu talento para fazer pequenas coisas fundamentais. Que tal fazer uma pessoa sorrir?

Beijos com carinho imenso, Carlota

quarta-feira, 9 de março de 2011

Qual o preço de uma frustração?


Carnaval com amor é maravilhoso, mas sem profissionalismo é impossível.


Sempre falo que quem cria expectativas termina colhendo frustrações. Mas não seguindo o meu próprio conselho, acreditei que tudo fluiria bem na terça feira de carnaval no Apaxes do Tororó. Comecei esse processo dispensando sutilmente todas as propostas de shows para esse dia. Bons cachês, condições razoáveis de trabalho ... mas pairava sobre mim uma vontade imensa de mais uma vez cantar no Carnaval de Salvador. Então no dia 14 de fevereiro na casa da minha tia Ray e na presença da minha vó Dalva, meu pai e minha madrasta, eu concordei em fazer no dia Internacional da Mulher uma grande homenagem as mulheres carnavalescas da família e do Brasil em um dos blocos de índios mais tradicional da Bahia. Importante salientar que minha tia Ray é diretora fundadora do Apaxes e minha mãe, Iná, foi a primeira mulher a cantar no bloco.

A emoção nos contagiou e toda família se envolveu. O presidente do bloco Apaxes, Adelmo colocaria a estrutura do bloco na rua e nós conseguiríamos o dinheiro para pagar os músicos e profissionais da equipe técnica. Questionei: mas nós temos apenas duas semanas? E todos concordaram em até colaborar do próprio bolso para pagar os cachês. Saímos em busca de colaboradores. Uma amiga nos ajudou na assessoria de imprensa e dois amigos de meu pai e minha madrasta contribuíram com metade dos cachês. Cheguei a procurar o vice-prefeito que sempre muito gentil tentou nos ajudar através de outros órgãos envolvidos com o carnaval, mas devido o pouco tempo, não obtivemos retorno favorável. Tudo bem, assumiremos esse custo pois temos uma meta: fazer um lindo carnaval para o Apaxes, para a família e para meus queridos fãs, minha grande família do Brasil.

Eu e minha banda ensaiamos exaustivamente desde o dia 24 de fevereiro, pois tínhamos um repertório pronto para até 3 horas de show, mas não para 6 horas de percurso que é a media das saídas de trio em Salvador, enquanto a produção adaptava o nosso cronograma de viagens para chegarmos a tempo de montar o equipamento e todos se aprontarem. Inclusive houve a aquisição de passagens de avião de Ilhéus para Salvador pois o nosso show da segunda foi em Mucuri a 900 Km da capital baiana. O meu técnico de som começou uma peregrinação ao Parque de Exposições com o objetivo de ajustar o trio elétrico às nossas necessidades técnicas. Chegamos à quinta de Momo e o bloco ainda não tinha carro e os que estavam disponíveis foram desaprovados por Pardal, técnico de som que já montou diversos trios e conhece carnaval há trinta anos.

Compartilhei essa preocupação com a família e com alguns fãs antes de sair da cidade. Falei por telefone e mandei mensagens para Adelmo com cópia para membros da família e da minha equipe com as nossas condições mínimas para trabalhar no carnaval. De todas as exigências, um trio com bom som era a principal. Monitoramos a saída do bloco no domingo e na segunda quando tiveram na avenida o excelente trio Estrelar. Rapidamente o meu técnico ligou para o proprietário desse trio e ele muito feliz disse que seria um prazer ter um amigo no trio dele, mas que não sabia se estaria à disposição do Apaxes também na terça. Eu pensei: POR QUE O BLOCO TERIA UM EXCELENTE TRIO NO DOMINGO E NA SEGUNDA E NÃO NA TERÇA, JUSTAMENTE O DIA QUE EU CANTARIA NO BLOCO?

Viajamos muito, tocamos em diversas cidades para um público animado, conhecemos novos fãs e pessoas legais mas eu não me desligava de Salvador. Os poucos momentos que estive em algum hotel, assistia a transmissão da festa e via brilhar os meus colegas e artistas de outros estilos e pensava ... terça estarei compartilhando com vocês dessa alegria, dessa energia de cantar na capital do maior carnaval de rua. Chegamos em Salvador as 15hs de terça e meu pai e minha madrasta conseguiram uma saveiro para levar o equipamento pois Adelmo não se manifestou para nos oferecer o transporte que havia pedido, inclusive para nos levar até o trio na hora de tocar. Relevei o fato. Meu técnico e meu produtor seguiram para o trio com carro próprio enquanto amigos levavam os instrumentos. Ao chegar no Canela se depararam com os piores veículos de carnaval existentes. Mesa de som obsoleta, caixas em menor número com falantes recauchutados, iluminação precária, camarim pequeno e sujo e um banheiro sem condições de uso.

Vi o nosso carnaval se esvaindo e toda a tristeza me invadiu naquele momento. Havia um convite para participar da transmissão de uma TV, não tive coragem pois não me sentia bem. Pensava na minha tia, minha vó e outros parentes que fizeram fantasias pra mim, meus backings e músicos. Pensava nos fãs daqui e de outras partes do Brasil que vieram para celebrar comigo o último dia de carnaval. Pensava nos amigos que colaboraram com trabalho ou financeiramente para o pagamento da banda. Pensava na minha banda que tanto se dedicou para preparar um momento musical especial com canções do Apaxes e para o dia da Mulher. E o meu coração foi ficando pequenininho. Para fazer um belo Carnaval precisa de muito amor, porém não se faz carnaval sem profissionalismo. Agora não cabe arrependimento. Mas não posso negar a minha grande frustração.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"O que é que a baiana tem?"


A música de Dorival Caymmi reflete a síntese do imaginário da brasileira em todo o mundo, mulher sensual, mestiça, um tanto submissa, e certa expressão livre e ingênua. A baiana foi apresentada para o mundo com suas frutas na cabeça e balangandans pela cantora Carmem Miranda em Holywood na década de 30. Claro que a mulher brasileira é mais que isso. Ela exerceu participação marcante na evolução da sociedade brasileira e muito contribuiu para a rica cultura desse país. Das abolicionistas nas associações femininas do fim do século XIX até chegar a 2010 com duas candidatas para presidência da república do Brasil – Marina Silva (PV) e Dilma Roussef (PT) – muita coisa aconteceu.

A História escrita normalmente por homens, mostra muitos heróis e mártires, mas aqui quero citar algumas personagens femininas que marcaram sua época. Chica da Silva, escrava alforriada casada com um rico negociador de diamantes que usava de beleza e sedução para influenciar a sociedade mineira. Madalena Caramuru filha da índia Moema e do português Diogo Correa foi a primeira mulher brasileira a saber ler e escrever. Maria Quitéria e Joana Angélica, a militar e a freira que lutaram pela independência do Brasil contra a resistência portuguesa na Bahia. Ana Nery enfermeira voluntária na guerra do Paraguai chegou a cuidar de seis mil soldados brasileiros. Princesa Isabel, herdeira de D. Pedro II, tinha postura liberal, aboliu a escravatura e criou as bases para a república. Chiquinha Gonzaga, também abolicionista, trocou o casamento pelo piano, foi compositora de choros e marchinhas de carnaval, chegou a ser a primeira regente de orquestra. Berta Lutz foi pioneira na luta pelo voto feminino e igualdade entre os gêneros no país.

Apesar da presença dessas personagens em alguns séculos de história, as mulheres conquistaram realmente seu espaço nas últimas quatro décadas com o movimento feminista, a descoberta da pílula anticoncepcional e o trabalho fora do lar. Mesmo pagando o ônus de uma dupla jornada de trabalho, muitas mulheres, mães ou não, assumiram as rédeas na produção, na economia, na política, no sustento e gestão da família. A partir de 1960, as mulheres passaram a exercer o direito de decidir quando e quantos filhos ter. Consequentemente puderam separar sexo de reprodução e descobrir o próprio corpo e o prazer. O feminismo muitas vezes visto como movimento longínquo e radical foi responsável pela garantia dos direitos da mulher contra violência, a favor da assistência médica e o acesso a informação. Ainda hoje mulheres ganham menos que os homens exercendo as mesmas funções no mercado de trabalho, no entanto sabemos que as diferenças físicas e psicológicas existentes entre homens e mulheres não privilegiam nenhum dos dois e podem proporcionar maior qualidade profissional. A riqueza da cultura está na diversidade.

Como filha, neta e bisneta de cantoras, tentei refletir porque recaiu sobre mim esse dever quase ancestral de levar adiante a música na minha vida. Assim identifico facilmente a evolução do feminino. A minha bisavó cantava apenas na igreja, apesar de adorar dançar e cantar com o seu irmão nos bailes, a cantoria não era coisa de moças de família. A minha vó, Lindalva, até arriscou cantar nos programas de rádio e dançar nos carnavais, porém assim que chegou o casamento, a vida se preenchia com muito trabalho fora e dentro de casa. Minha mãe nascida em 1950, participou de programas de calouros, cantou e dançou em matinês, porém foi proibida de representar a Bahia no Chacrinha porque meu avô julgava o mundo da arte uma perdição. Inaiá Visi só saboreou a liberdade depois da separação aos 32 anos ainda diante de severas críticas.

Marina e Dilma representam um avanço nessa organização social patriarcal brasileira e no fundo representam mulheres simples, mulheres comuns que lutam no seu dia a dia para ter respeito no trabalho e em casa, mulheres que lutam para ter acesso a educação e uma carreira digna, mulheres que querem decidir sobre casamento e filhos, mulheres que sonham e podem acreditar que esses sonhos podem se tornar realidade.

Carla Visi
Cantora e jornalista

Teca Mougeville
Apoio de pesquisa

*Texto elaborado para Revista Boa Dica de agosto de 2010.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Pensar além ...


Amigos queridos, o presidente da república do Brasil governa uma nação laica. Marina pode ser de qualquer religião e ser contra o casamento gay porque antes de ser presidente ela é um indivíduo. O que ela ou qualquer outro presidente não pode fazer é IMPOR a sua opinião pessoal quando se trata da garantia dos direitos do indivíduo no nosso país, seja ele homo ou heterossexual. Há muita confusão quando se fala de casamento gay. Acredito que avançamos um pouco na legislação pois qualquer casal homossexual pode fazer contratos para partilha de bens e alguns já adotaram crianças. Inaceitável é o preconceito e o radicalismo. Não posso avaliar um candidato apenas a partir do item GAY.

Governar um país é governar para ateus, católicos, kardecistas, budistas, seguidores do candomblé, umbanda ... governar um país como o Brasil é governar para heteros, homossexuais, bissexuais, celibatários, ninfômanas, garanhões ... Inaceitável é a corrupção, a violência, a pobreza e a falta de atitude para garantir igualdade de oportunidades para todo povo. Ainda sonho com o dia em que poderei matricular minha filha numa escola pública de qualidade antes de chegar a universidade. Também gostaria de usar os hospitais e clínicas do SUS. Viajar em estradas decentes e seguras para fazer shows pelo Brasil. Sonho com a preservação e estudo dos nossos biomas. Sonho com uma justiça que pune políticos e empresários que vivem na ilegalidade. Sonho tanta coisa boa para o nosso país. Com Marina Silva começo a acreditar que meus sonhos podem se tornar realidade.