sábado, 2 de julho de 2011

Dia Brasileiro: saudade e realidade



Brasil: o pais do futuro pode ser o pais do presente para todos nós?

O Dia Brasileiro ou Brazilian Day tem em todo mundo características bem semelhantes, mas a principal é a presença massiva de brasileiros muito saudosos do pais de origem. É um momento de festa, de celebração que esconde atrás de toda aquela produção uma realidade muito cruel para os imigrantes brasileiros na maioria dos paises que os recebem. O brasileiro, salvo algumas raras exceções é muito mal visto por seus anfitriões e tratado com certo receio.

O movimento de homens e mulheres pelo mundo sempre foi muito natural, mesmo depois de mudarmos nossa condição de nômades para sedentários formando assim as primeiras cidades. Muitos da nossa espécie se aventuravam em terras desconhecidas e ainda se aventuram para o desconhecido em busca de melhores oportunidades. No passado o que estimulava inicialmente a migração de povos inteiros era a caça, o extrativismo e as mudanças climáticas. Posteriormente buscavam locais mais apropriados para o cultivo e a criação de animais como as margens dos rio, terras férteis, clima mais ameno e sempre a conquista de riquezas naturais ou de outros povos. Hoje nos movimentamos com grande facilidade fortalecendo a globalização, a comunicação sem fronteiras, vencendo os limites de tempo e espaço.

Assim foi minha viagem para o primeiro Brazilian Day Portugal. Uma rápida saída do meu habitat que aguçou os meus sentidos. Um fim de semana em Lisboa – Portugal me deixou feliz por proporcionar um momento de carinho e alegria para alguns brasileiros através da música, mas me deixou triste diante de uma percepção critica do pais dos nossos colonizadores e do nosso Brasil colonizado. Alem da condição desigual que essa relação histórica proporciona, encontrei uma atmosfera de crise nos meios de comunicação. O governo de Portugal pedia ajuda a União Européia para sair da crise. Pensei: será o caos? Adoro Portugal, sua arquitetura, comida, musica, pessoas, sotaque ... estava visitando o primo pobre da Europa porém na estrutura local tudo continuava em funcionamento: hospitais, escolas, sinais de trânsito, transporte público, aeroportos, pontos turísticos, museus, comercio ...

Não me enquadro no perfil turista consumista pois minha consciência ambiental avalia algumas vezes se preciso ou não comprar uma determinada coisa, porém como estávamos em um lindo hotel cinco estrelas cuja garrafinha de suco de 300ml custava 5 euros, fui ao mercado em um shopping próximo. Quanto mais caminhava, mas ficava assustada. As frutas, os legumes, alimentos industrializados ou não, chocolates, produtos naturais, sem falar nos vinhos, azeites eram mais baratos que no Brasil? Comprei uma garrafa grande de água mineral por 0,40 euros. Eu moro no pais que possui a maior reserva de água doce do mundo e pago por uma garrafinha de meio litro o equivalente a 1,5L em Portugal? Continuei a minha pesquisa e fui a uma loja de esporte. Não preciso de nada, mas para minha filha poderia ter algo, então encontrei uma boa camisa de algodão lisa tamanho 5/6 anos por apenas 2 euros, o equivalente a 5 reais. Depois fui almoçar com meus músicos em um restaurante cujo buffet incluindo saladas diversas, prato quente, suco, sobremesa e café custava 5,90 euros. Então surtei. Nem nos restaurantes naturais que costumo freqüentar há mais de 20 anos consigo tamanha economia. Nosso pais também é um grande produtor de alimentos.

Aproveitei a refeição para trocar idéias e relaxar com meus músicos Marcio Dhiniz e Rudnei Monteiro, e uma nova amiga Maria dos Prazeres. Então conversamos amenidades e diante da evidente saudade da família fiz a pergunta sobre a possibilidade de Maria retornar ao Brasil e a resposta foi imediata: não. Motivos óbvios: mercado de trabalho, vida estruturada com facilidades, conforto, qualidade. Também havia queixas, sempre as teremos, no entanto a queixa de Prazeres estava impressa na nota fiscal, uma taxa de 13%. Então eu ri e todos olharam pra mim. Bom saber o quanto se paga de imposto em cada compra, em cada serviço, em cada negócio realizado. Nossos alimentos, combustível, remédios, serviços são extremamente caros e muitas vezes nem temos noção de quanto se paga de imposto. Isso sem falar que preciso pagar escola, assistência medica e viver insegura, dirigindo por ruas esburacadas e ainda contribuo com o absurdo Imposto de Renda de 27%.

Recentemente escrevi uma nota no Facebook agradecendo a um competente e admirado jornalista quando ele no seu programa de rádio compara os nossos impostos (41% no total) com os de outros paises da América Latina e faz a triste indagação de onde vai parar o nosso precioso e suado dinheirinho. O pais está em pleno desenvolvimento com produção e consumo em alta. O dinheiro está chegando aos cofres públicos, mas os serviços básicos e as melhorias não retornam para o povo brasileiro. Rodo, viajo, reflito e sempre retorno para o meu canto no bairro do Rio Vermelho com alguma esperança de que um dia Prazeres e muitos outros brasileiros terão melhores opções do que deixar esse pais. Brasil do futuro pode e deve ser o Brasil, pais do presente.

Texto elaborado para revista Boa Dica / Japão

3 comentários:

Hamilton Hafif disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hamilton Hafif disse...

Carlota, eu tenho me visto extremamente incomodado com esta situação. Moro atualmente na Índia que é um país extremamente mais carente, de dimensões menores, de população 11 vezes maior e as coisas custam muito mais baratas. Tem todo tipo de problema de ordem social, mas não existe a violência urbana que grassa nas cidades do Brasil e o menos ainda, esta sanha que o nosso governo tem de arrecadar.
Frequentemente temos notícias de que se aumentou a arrecadação de impostos e isto não reflete em melhoria para o povo.
Eu penso que está na hora da sociedade civil se organizar e fazer valer seus direitos de saber para onde vai este dinheiro. O que estamos pagando.

Em tempo: gosto muitodos seus texto e sua forma de abordagem.
Um beijo e muita Luz.

CIRO LÉO disse...

É, minha querida cantora, não é fácil ser brasileiro! Somos guerreiros? Sim! Somos persistentes? Lógico! Enquanto a nossa carga tributária é a maior do mundo (por qual motivo? Não somos ricos?), Portugal, o primo pobre da Europa possui uma carga tributária mínima! E olha, que não conheço Portugal, mas sem sombra de dúvidas o Brasil tem muito mais a oferecer. Eu acho que o céu já é nosso!